Como o novo coronavírus (Sars-CoV-2) tem impactado o agronegócio no Brasil? Confira neste post uma breve análise das principais commodities e mantenha-se informado.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) [1], até o momento, as exportações vão bem e o dólar elevado favorece a receita do exportador.
Mesmo nos meses de janeiro e fevereiro – período em que a epidemia do coronavírus atingia fortemente a China – o comércio de grãos, alimentos e óleos destinados àquele país teve aumento de 9,7%, segundo Boletim da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) [2].
Dessa forma, os efeitos negativos do coronavírus sobre a demanda internacional devem ser contrabalanceados em alguma medida pelo elevado patamar do dólar ao longo do ano.
A perspectiva é que os setores ou estabelecimentos mais dependentes da demanda doméstica sejam os mais afetados. Em especial, produtos de maior valor agregado, não-essenciais e mais perecíveis sentirão com mais força a retração do poder de compra da população e as mudanças na forma de consumo.
Veja abaixo breve análise dos impactos do coronavírus sobre as principais commodities brasileiras com base nos estudo do CEPEA[1] e da CNA[2].
Oleaginosas e grãos
- As commodities soja e milho não apresentaram grandes mudanças no processo de produção, visto que a colheita e plantio de segunda safra já estavam se encaminhando para o fim antes da implantação da quarentena e dos principais impactos do COVID-19. Entretanto, os tratos culturais que estão por vir, como adubações de cobertura e pulverizações, serão realizados com um menor número de trabalhadores, a fim de evitar chances de infecção.
- Com relação aos preços destas commodities, observou-se uma alta exponencial dos valores de saca, especialmente para soja devido ao estoque baixo no mercado internacional e grande necessidade da China de importar este grão.
- Neste cenário, os produtores estão acelerando o processo de escoamento, devido à restrição de viagens nos portos e à falta de caminhões rodando nas estradas, fatos que embora possam encarecer o deslocamento do produto, ainda são um esforço compensativo ao produtor devido a alta do produto [3].
- Até o momento, com a desvalorização do Real e a demanda firme por milho, soja e derivados, as exportações seguem aquecidas e os preços internos, em elevação. O
o Brasil também foi beneficiado por paralisações de unidades portuárias na Argentina, fazendo com a demanda se deslocasse para os produtos nacionais.
- No médio prazo, o menor crescimento mundial deve pressionar as cotações internacionais, que devem ser transmitidas ao Brasil. Contudo, o impacto poderá ser menos intenso em caso de continuidade da desvalorização cambial ou de maior demanda externa pelos produtos brasileiros, reduzindo o excedente interno [1].
Sucroenergético
- Aliado à já desgastada guerra de preços do petróleo, a pandemia da COVID-19 contribuiu para ligar o alerta neste setor, pois com o menor preço da gasolina e a diminuição da frota de veículos, muitos consumidores optarão pelo combustível fóssil em detrimento ao etanol nacional.
- Com este cenário, espera-se que a safra 2020/21 se apoie profundamente no açúcar para compensar a falta de mercado do etanol.
- A combinação destes fatores [COVID-19 e baixa do petróleo] proporcionou, por exemplo, no final de fevereiro/2020, um preço FOB do açúcar acima R$ 1.500/tonelada. “Trata-se de um valor que assegura boas margens econômicas para o adoçante frente às safras anteriores.”, afirma Haroldo Torres [4], especialista em economia do PECEGE (Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas) e Mestre em Economia Aplicada pela ESALQ/USP (Universidade de São Paulo).
Algodão
- Segundo levantamento realizado pelo CEPEA [5], o baixo fluxo de pessoas no comércio varejista aliado à redução de produção e, em alguns casos, paralisação da indústria têxtil, fizeram com que a demanda interna por algodão em pluma fosse reduzida.
- Além disso, devido a complicações de caixas dos compradores, o preço interno do algodão será enfraquecido este mês. Quanto às solicitações do mercado externo, a liquidez dos negócios vem diminuindo, atrelado às incertezas da economia global e queda de preços internacionais.
- Como o algodão ainda se encontra em campo e o início da colheita é agora em abril, os efeitos da pandemia não foram sentidos na implantação das lavouras. No entanto, a atual situação vem elevando os custos operacionais, principalmente com o aumento dos combustíveis e insumos agrícolas que possuem relação direta com o dólar.
- Com relação à safra 2020/21, espera-se um aumento dos custos de produção para todo ciclo, indicando a importância de um bom planejamento para a próxima safra, pois a mesma sofrerá fortes influências das taxas de câmbio.
Boi Gordo
- No caso da bovinocultura de corte, embora o mercado doméstico represente 75% das vendas da carne, as exportações estão firmes e a oferta de animais para abate, restrita – o que pode impedir quedas significativas de preços na cadeia. No entanto, uma grande preocupação dos pecuaristas está sendo a ração animal – composta por soja e milho – que apresentou uma alta quando comparada aos meses anteriores, sendo influenciada pela demanda de mercado e valorização do dólar.
Hortifrutis:
- Este setor foi um dos que mais sofreu com a crise do novo coronavírus, uma vez que que seus principais canais de comercialização dependem veementemente do fluxo de clientes, tais como bares, restaurantes, feiras livres e os pontos específicos de comercialização (CEAGESP, CEASA, etc.). O Boletim da CNA[2] informa que o tomate, que representa uma grande parcela de produtos comercializados, teve uma queda média de 37% dos preços. Para os produtores de frutas, a redução das exportações via aérea, para regiões do Oriente Médio, União Europeia dentre outros destinos, dificultou muito o escoamento da produção, fazendo com que ocorra uma redução do preço destes produtos.
E você? Como tem sentido os efeitos do coronavírus em sua lavoura?
Conta pra gente nos comentários abaixo!
Agradecemos a sua leitura. Até o próximo post!
Guilherme Mentone de Oliveira – Engenheiro Agrônomo, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Thais Santos – Meteorologista (UNIFEI) e Mestre em Engenharia de Sistemas Agrícolas (ESALQ/USP).
Referências
[2] Boletim CNA: Impactos do Coronavírus. Confederação Brasileira da Agricultura e Pecuária do Brasil.
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